Bikingman Brazil: Veja o relato da ciclista Jéssica Röpcke

Atleta pedalou 1000km com 18.000mts pelas estradas do Brasil durante o Bikingman Brazil.

Nossa parceira, Jéssica Röpcke, participou do Bikingman Brazil que aconteceu no mês passado e escreveu um relato sobre todo a experiência que viveu participando dessa competição. Então prepare-se para uma divertida e inspiradora leitura. Confira:

“Em Abril desse ano, me inscrevi para um sorteio que o prêmio era uma inscrição para o Bikingman Brazil, minha decisão foi totalmente impulsiva, como eu nunca ganhei nada em sorteio, seria ‘’azar’’ demais ganhar logo essa..Adivinha? 

Em uma roleta improvisada na roda de uma bicicleta, a loja Drop – SP sorteou meu nome e o desafio foi lançado: 1000km com 18.000mts em 120hrs. 

Logo eu, novata na gravel e mais ainda no mundo do ultraciclismo…Não teve jeito, decidi encarar, foram 6 meses longos e divertidos de preparação. Foi um treino físico, mas principalmente mental, onde me coloquei em situações que sem esse objetivo talvez eu demorasse muito mais para vivenciar. Pedalei em inúmeras condições: frio, calor, chuva, lama, areia, pedras.. 

Aprendi a navegar, planejei o meu roteiro, testei setup de bolsas, suplementos, pesquisei, troquei algumas peças da minha bicicleta com o auxílio do meu noivo Pedro ( para ele é um prazer isso e eu confiei 100%) conversei com muitas pessoas do meio e pentelhei muito o Vinicius Martins, organizador do Bikingman no Brasil. 

Me conheci de uma forma intensa e rápida ao longo desses meses, fui para Taubaté com o coração acelerado e sem muita certeza do que eu iria encarar pela frente, porque por mais que você planeje, estar na estrada é sempre uma caixa de surpresas. 

Ao chegar ao Checkin da prova onde era feita a conferência dos equipamentos eu já pude sentir o clima amistoso de uma prova como essa, muitas bikes diferentes, muitos idiomas, sotaques ( foram mais de 13 países ), todos movidos pela mesma paixão: pedalar. 

Na manhã seguinte fizemos um pedal de ‘’reconhecimento’’ pela região, bater um papo e entrar no clima do evento. Foi muito divertido, a visão que tínhamos das serras ao redor era encantadora e só aumentava o frio na barriga. 

Dia 01/11 3hrs da manhã acordei empolgada depois de uma noite tranquila de sono, conferi mais uma vez a bicicleta e desci para o café da manhã, quando sentei na na mesa pude ouvir o barulho da chuva lá fora, fiquei ainda mais ansiosa e fiz um pensamento positivo para acalmar. Não teve jeito, às 5hrs larguei embaixo de chuva mesmo, a partir do momento que clipei minha sapatilha e atravessei o pórtico toda a minha ansiedade passou, um sentimento de exploração tomou conta de mim. 

A chuva persistiu durante os dois primeiros dias, o terreno era duro e com muitas subidas. No final do primeiro dia que pedalei 218km com 3.091alt, postei minha atividade no Strava logo veio a mensagem ‘’Parabéns essa é a sua atividade mais longa no Strava’’ e isso significou muito, do início ao fim essa prova foi uma sequência de superações pessoais. 

Toda vez que um obstáculo surgia eu lembrava de uma experiência que eu vivi e que venci uma situação parecida, isso me acalmou demais e me fez seguir em frente. 

No 2º dia acordei cedo me sentindo bem e fui pedalando com objetivo de chegar a tempo no ponto de controle 1 que ficava em Mogi das Cruzes, no caminho encontrava outras pessoas da prova mas pedalava muito sozinha também. Tinha momentos que ria, conversava comigo mesma, ouvia música… Apreciando os novos cheiros, gostos, passando por várias placas de divisa entre cidades e uma enorme sensação de liberdade. Na parte final encarei um gravel sinistro, à noite, totalmente sozinha só com a luz do meu farol iluminando a estrada, entrei em transe e segui o flow até chegar em Salesópolis onde dormi. Foram 189km com 3.199alt no total. 

A partir do 3º dia a chuva deu lugar ao sol em muitos momentos e eu pude alcançar o litoral depois de vencer a serra do mar e a descida de Ubatuba. Antes de descer parei no acostamento para conferir minhas pastilhas de freio, a serra é perigosa e estava chovendo, na dúvida eu troquei as duas e mesmo assim fiquei com medo de descer, pista estreita, muitos carros, descida íngreme, parei várias vezes para aliviar a dor nas mãos de tanto segurar no freio. Após essa tensão resolvi parar em Ubatuba e dormir mais cedo, eu sabia que o dia seguinte seria muito duro. Nesse dia pedalei 137km com 2.509alt, foi o dia mais ‘’leve’’ de toda a prova. 

No 4º dia acordei mais cedo ainda e segui em direção ao ponto de controle 2, em Paraty-RJ. Nesse dia eu encarei o meu maior pedal em altimetria acumulada até então 167km com 4.032mts, subindo a serra mais inclinada do Brasil (Paraty-Cunha) em modo ‘’cobrinha’’ e mesmo assim empurrando em algumas partes iniciais. Depois da serra eu fui presenteada com uma das paisagens mais bonitas que eu já vi. 

No último dia eu pedalei quase 18hrs, 292km com 4.487mts encarei a serra mais longa do Brasil, no Parque Nacional do Itatiaia, a sensação de conquista ao chegar lá no topo me emocionou demais, chegar lá em cima é muito duro, a última parte são 13km de gravel super técnico. Cruzei a linha de chegada exausta em Taubaté por volta da 1:00 do dia 6/11, finalizando a prova em 115hrs e 47minutos. Fiquei feliz demais, pois havia muitas pessoas queridas vibrando por mim, não consegui nem chorar, estava em êxtase sem nem acreditar que superei esse desafio. 

Participar de uma prova dessa me transformou como pessoa, me empoderou como mulher e abriu minha cabeça para o mundo da ultra distância. Demorei muitos dias para digerir tudo que vivi e conseguir voltar ‘’a realidade. É uma experiência única e que eu compartilho com muito carinho incentivando outras pessoas a se desafiarem também. Como diz Fernando Biagioni ‘’O mais difícil é sair de casa’’. “

Fique ligado em nosso blog para mais relatos, dicas e notícias sobre o mundo da bike.